O poder do “Não”, o bom senso ou “o que quer que isso seja”

O poder do “Não”, o bom senso ou “o que quer que isso seja”

No início do mês de Agosto fui a São Paulo em trabalho, na Fnac do aeroporto Humberto Delgado em Lisboa encontrei um livro que me pareceu adequado adquirir, do escritor Thijs Launspach. Não só porque tinha um título “super” apelativo: “Vive sem stress e o resto que se F@da”, mas também por ter sido considerado um bestseller internacional (2023). Na tentativa de reduzir os meus níveis de stress e com objetivo de viver melhor, percebi que terei de me libertar das múltiplas adições presentes no dia-a-dia.

O poder do “Não”, o bom senso ou “o que quer que isso seja” 

No início do mês de Agosto fui a São Paulo em trabalho, na Fnac do aeroporto Humberto Delgado em Lisboa encontrei um livro que me pareceu adequado adquirir, do escritor Thijs Launspach. Não só porque tinha um título “super” apelativo: “Vive sem stress e o resto que se F@da”, mas também por ter sido considerado um bestseller internacional (2023). Na tentativa de reduzir os meus níveis de stress e com objetivo de viver melhor, percebi que terei de me libertar das múltiplas adições presentes no dia-a-dia.

A nossa existência quotidiana revela um conjunto de hábitos profundamente inculcados, que persistem em aumentar a falta de equilíbrio entre o nosso “eu pessoal” e o “eu profissional”. Este livro despertou o meu interesse, porque enumerava um conjunto de “maus” hábitos que consideramos inofensivos, mas que nos restringem profundamente a nossa liberdade e afetam os nossos níveis de bem-estar. Thijs Launspach reflete sobre a importância de nos libertarmos dos efeitos das redes sociais, da sincronização sistemática dos e-mails profissionais, de experienciar estados de pressão prolongados no tempo, das múltiplas tarefas que nos comprometemos a realizar, na falta de equilíbrio entre a vida pessoal e da vida do trabalho. Até aqui, tudo bem! Mas não acrescenta nada de novo!

Contudo, o ponto de viragem do livro no meu entendimento é o “poder de dizer não”. É vital ter a capacidade de dizer “não”, mas o “poder de dizer não” acarreta custos catastróficos para a nossa popularidade de forma geral. Sei que o nosso “ser social” não tolera estes golpes, mas o nosso “eu individual” agradece profundamente esta tomada de consciência individual. O nosso mind set está programado para dizer sempre “sim”, na tentativa desesperada de sermos bem-sucedidos do ponto de vista relacional, mas esta mudança de atitude requer discernimento e muito treino. Cada vez que eu não tenho “a capacidade de dizer não” sou vítima de um conjunto de armadilhas que aumentam o meu nível de responsabilidade, me colocam “debaixo de água” e me esgotam os recursos emocionais, mentais e físicos. Estes processos vão gerar elevados níveis de stress e, consequentemente, vão aumentar os níveis de ansiedade que poderão evoluir para estados de depressão e de burnout como resultado da exigência sistemática a que os indivíduos se encontram expostos nestas construções sociais.

Arrisco a sugerir que despertemos a “criança” que existe em nós. Sim! Porque a palavra “não” é das primeiras palavras que as crianças apreendem a balbuciar. Mas à medida que o processo de socialização atua sobre os indivíduos a palavra “não” vai sendo relegada para segundo plano no dicionário social. Esta é a tentativa do “ser social” que habita em todos nós de ser “bem aceite” e “bem-sucedido” nos vários grupos a que pertence ou almeja pertencer. Posto isto, as organizações também elas são construções sociais que se encontram repletas de relações de poder que fomentam a desigualdade, com objetivos e com fins muito claros “o negócio”. Com o intuito de alavancar o negócio, com recurso ao conjunto de ferramentas disponíveis em contexto organizacional são colocados sistematicamente um sem número de desafios aos trabalhadores. Não sendo purista, compreendo que os trabalhadores enfrentam desafios todos os dias, mas uma coisa é fazer alguns “sprints” outra coisa é fazer sistematicamente “maratonas”. Ninguém aguenta! Porque independentemente de ser um maratonista ou um sprinter, ambas as modalidades exigem muita preparação física e psicológica, mas obrigam necessariamente a períodos de recuperação aceitáveis para um desempenho de alto nível dentro da modalidade. Estendendo o paralelismo às organizações, significa que estamos a exigir muitas vezes o impossível, não admira que as pessoas estejam a adoecer a trabalhar.

O livro do Thijs Launspach permitiu-me refletir e, concomitantemente compreender que tenho de desenvolver um conjunto de estratégias pragmáticas e assertivas para lidar com as armadilhas organizacionais. A título ilustrativo: 1) quando um colega me pede para fazer a sua parte de um trabalho, porque acredita que eu domino o tema em específico como ninguém; 2) ou quando o meu chefe me pede para absorver mais um conjunto de tarefas sobre o pretexto que sou uma excelente profissional; 3) ou quando é marcada uma reunião de trabalho ao fim de um dia de trabalho que se prevê intenso;  4) ou quando estamos de férias e nos pedem para rever um relatório para endereçar com urgência a um cliente porque “só eu” é que sei fazer bem; ou ainda 5) quando estou de folga e sou literalmente “engolido pelos imensos telefonemas de trabalho e e-mails urgentes”. Vou-me permitir ser como as crianças, vou responder de forma clara e tranquila que não faço o trabalho, que não assumo as novas tarefas, que não vou à reunião, que não vou fazer o relatório e não vou responder aos telefonemas e aos e-mails. Porquê? Ao responder que não, vou reduzir os meus níveis de stress, diminuir os meus níveis de ansiedade e preservar a minha saúde mental com impacto direto em todas as outras dimensões da minha vida. Vou definir limites!

Em suma, se quero viver com menos stress e ansiedade, tenho de trabalhar a minha capacidade de dizer “não” às múltiplas armadilhas que minam a nossa vida em contexto de trabalho. Para alavancar os meus níveis de equilíbrio e bem-estar individual. Mas tenho de redobrar o cuidado para perceber se estou a ser coerente e não me estou a extremar, porque posso colocar em risco a minha vida profissional. Como em tudo na vida, temos de ter bom senso ou “o que quer que isso seja”. 

Daniela Lima, Managing Partner da SWAIFOR

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