A semana de 4 dias é um verdadeiro ato de FÉ!

A semana de 4 dias é um verdadeiro ato de FÉ!

A semana dos quatro dias de trabalho parece-me uma ideia fantástica, pois considero que vai de encontro às expectativas dos trabalhadores e das empresas na resolução de alguns dos problemas que entendemos hoje como incontornáveis, nomeadamente o stress, o equilíbrio da vida pessoal e do trabalho, a atratividade e retenção de talento, a sustentabilidade e a produtividade. Acredito que este vai ser o “tópico” para 2023 sobre o qual recairão muitos argumentos a favor

A semana de 4 dias é um verdadeiro ato de FÉ!

Num período em que temas como o stress, o burnout, o equilíbrio da vida pessoal e do trabalho, a retenção de talento, a sustentabilidade e a produtividade estão em destaque, urge refletir sobre o caminho a seguir na tentativa desesperada de transformar a sociedade em algo mais justo e humanizado. A semana de quatro dias é o “tópico” para 2023.

A semana dos quatro dias de trabalho parece-me uma ideia fantástica, pois considero que vai de encontro às expectativas dos trabalhadores e das empresas na resolução de alguns dos problemas que entendemos hoje como incontornáveis, nomeadamente o stress, o equilíbrio da vida pessoal e do trabalho, a atratividade e retenção de talento, a sustentabilidade e a produtividade. Acredito que este vai ser o “tópico” para 2023 sobre o qual recairão muitos argumentos a favor e muitos mais contra. Contudo, a reflexão e a discussão do tema urgem dada a amplitude do seu impacto nos vários contextos (organizacional, económico e social), num período que se prevê̂ ser particularmente frágil e de profundas mudanças.

O prestigiado economista e Professor Pedro Gomes lançou o desafio aos portugueses de pensar “fora da caixa” e de sermos pioneiros nesta aventura da semana de 4 dias. Não só me pareceu um desafio muito interessante, como algo passível de ser concretizado dada a qualidade e clareza de argumentos que apresenta no seu livro e nos seus artigos. Sinto-me particularmente atraída pela teoria das soluções “aditivas sem considerar as subtrações” que resulta do enviesamento aditivo, o qual dá suporte à teoria de que os ganhos de produtividade se concretizam pelo caminho alternativo, a redução das horas de trabalho, ou seja, a semana de 4 dias. O argumento é desafiante e confesso que me conquistou de forma incondicional!

A semana de 4 dias é amplamente defendida pelos dados que emergem dos vários estudos realizados internacionalmente, que evidenciam os ganhos para o bem-estar dos trabalhadores em contexto organizacional. Um artigo publicado esta semana na comunicação social, realça as vantagens da semana de 4 dias com recurso a um estudo realizado no Reino Unido, pela Universidade de Cambridge, num projeto piloto com 61 empresas. Estas empresas reduziram em 20% o horário dos seus trabalhadores sem perda de remuneração por um período de tempo de 6 meses. Os resultados são muitos interessantes e inspiradores, na medida em que se registaram menos 65% de baixas por doença e as intenções de saídas dos trabalhadores reduziram-se em 57%. Este estudo refere ainda que 79% dos trabalhadores das 61 empresas que participaram neste piloto, dizem sentir-se menos expostos a fatores de stress com a adoção deste novo modelo. O sociólogo Brendam Burchell da Universidade de Cambridge, que liderou o programa 4 Day Week Campaing, aponta como vantagem competitiva para as empresas a adoção da semana de 4 dias. Os resultados obtidos neste estudo são muito aliciantes porque as empresas registaram um aumento médio de 1,4% da sua faturação no período de tempo em que decorreu o estudo no comparativo com o ano anterior

Contudo, existe sempre “um mas”! Devemos comparar o que é passível de comparação, não querendo ser a voz do velho do restelo, mas não me parece que, do ponto de vista das políticas atuais do mercado de trabalho, da própria legislação do trabalho, da carga fiscal sobre o trabalho motivem a esmagadora maioria do tecido empresarial português a considerar sequer “um tema a discutir”, a semana dos 4 dias. Mas, ainda assim, a clareza dos argumentos apresentados pelo Pedro Gomes no seu livro desafiam a reflexão, principalmente pelo paralelismo que estabelece entre a discussão da semana dos 4 dias e discussão da semana dos 5 dias há́ 80 anos atrás (Sexta-feira é o Novo Sábado). Na altura, foi possível passar dos tradicionais 6 dias de trabalho semanal, para os 5 dias de trabalho. Nessa medida, possivelmente, também o será, com os devidos ajustes, ter no futuro uma semana de 4 dias.

Neste desafio reflexivo que se coloca hoje aos vários setores da sociedade, existem várias questões que emergem de forma natural e que exigem respostas. Atendendo à minha formação, também eu tenho várias questões que gostaria de ver discutidas. Neste sentido, vou apresentar apenas alguns tópicos porque acredito que vão existir inúmeros fóruns de discussão e reflexão que permitirão percorrer o trajeto de forma calma, tranquila e estruturada em direção à semana dos 4 dias.

Assim sendo, é do conhecimento comum a força da envolvente externa na prática organizacional, nomeadamente, ao nível das pressões do mercado, da aceleração digital, da falta de talento e de tantos outros fatores a montante e jusante do negócio que transformam as práticas de gestão de recursos humanos em verdadeiros desafios. Esta conjuntura de fatores traduz-se numa quantidade excessiva de exigências para os colaboradores em contexto organizacional, porque a quantidade de trabalho por trabalhador está sobredimensionada para os 5 dias da semana. Neste sentido, urge compreender que assumindo que se respeita o período semanal de trabalho dos 4 dias a 8 horas, pergunto como é que se equaciona reduzir sem aumentar custos através da contratação de mais recursos? Por outro lado, estarão estes trabalhadores na sexta-feira que é o “novo sábado” em “home office” a produzir trabalho para “repor o tempo perdido”? Nestes pontos considero que a cultura organizacional terá um papel crucial a desempenhar. A cultura organizacional está profundamente impregnada de pequenas referências veladas à prática dos trabalhadores terem um horário de entrada, mas sem terem uma previsão de saída. A leitura por parte dos “nossos talentos”, ou seja, dos profissionais nos nossos dias é que para serem atrativos para as empresas e para o mercado de trabalho devem demonstrar a sua dedicação e o seu comprometimento para com a organização, aumentando o seu desempenho com recurso ao excesso de horas trabalhadas, privando-os do descanso e, retirando valor às outras dimensões da sua vida. Esta semana dos 4 dias seria muito vantajosa para todos os profissionais que enfrentam este contexto. Contudo, que profissionais e que setores seriam elegíveis para usufruir deste merecido descanso? Seria um direito extensível a todos os trabalhadores? É importante refletir para provocar a mudança, mas o desafio é audaz!

Com a mudança de paradigma do trabalho decorrente do COVID-19, com a crescente instabilidade socioeconómica também o mercado de trabalho sofre fortes oscilações face ao impacto deste conjunto de fatores sistémicos. De acordo, com o economista Pedro Gomes este panorama de “perfect storm” urge como sendo a oportunidade perfeita de rutura com o status quo, fazendo a ressalva que não existe qualquer corrente política de esquerda ou de direita associada à ideia, mas como sendo o mercado a funcionar numa lógica contrária à heurística da adição. Na ótica dos trabalhadores, estes sentem a ameaça palpável do “bicho papão” das rescisões contratuais, o aumento da inflação que limita o poder de compra das famílias, o aumento dos juros bancários com impacto direto no seu orçamento familiar. Existem relatos em Portugal de agregados familiares que se vêem muito próximos do limiar da pobreza, com perda efetiva de poder de compra e qualidade de vida. Concordo que o panorama é duro e não apoia a tese da semana dos 4 dias, mas os custos associados à falta de equilíbrio entre a vida do trabalho e a vida familiar, o excesso de exigências, o stress, a ansiedade, a doença mental e os acidentes de trabalho também têm uma importância que merece ser equacionada do ponto de vista económico e social.

A semana de 4 dias é muito atrativa, na medida em que se apresenta como um mecanismo que permitiria criar um conjunto de dinâmicas que reduziriam as situações de risco em contexto organizacional e, permitiriam aumentar o bem-estar organizacional (well-being) e a qualidade de vida dos trabalhadores. Permitiria que os trabalhadores tivessem a oportunidade de ter mais tempo de recuperar das exigências cognitivas e emocionais, seriam mais produtivos, mais criativos, mais organizados com os seus tempos de trabalho, teriam tempo para o seu desenvolvimento pessoal, para a aquisição de novas competências, entre outras oportunidades. Todas estas vantagens geram fluxos financeiros dentro da nossa economia: dinamizaríamos mais o turismo interno (escapadinhas), as universidades e as empresas de formação teriam mais alunos, a restauração teria mais clientes, os ginásios e as academias teriam mais utentes, etc… Seria perfeito! A semana de 4 dias deve ser entendida como um ato de fé, porque a sociedade necessita de um milagre em breve.

 

Daniela Lima, Managing Partner da Swaifor

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